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Eu vou contar a experiência de contato com a terra mais profunda que eu passei. Que foi quando eu fiquei quase dois meses acampada, no meio do mato e sem energia elétrica, sem nada. É um lugar bem ermo, bem longe. E foi num pedaço de terra comunitária, de várias pessoas. E o cerrado lá é um cerrado, em Goiás, tá bem preservado. Se chama Terra Ronca. A cidade mais perto dali ficava a mais de 100 km. Então tinha rio, muitos animais selvagens, muitas plantas nativas. E a gente estava em 30 ou 40 pessoas…. e estava todo mundo nu. Todo mundo andava pelado já. E logo na primeira semana, que eu tava lá, andando pelo mato, eu enfiei meu pé em um brejo e perdi meu chinelo. Que era o único sapato que eu tinha levado. Nisso eu senti que era o chamado, o chamado da terra. Pra esse contato intenso. Do pé. Fui me desapegando de tudo e até das roupas. Lá não tinha tempo, não tinha obrigação. A gente se sentia como um organismo, vivo, conectado. Responsável por se alimentar, aquecer, produzir arte, conversar, nos conectar… e assim nua, fui me despindo das minhas máscaras, das minhas crenças e me vi renascer em cada banho de rio.
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